UMA IMERSÃO PARA RECONECTAR
(APENAS PARA MULHERES)
É SAGRADO FEMININO?
É urgente termos consciência da estrutura social que sustenta grande parte das imersões pautadas no “Sagrado Feminino”. Reconhecer os nossos privilégios em relação a outras mulheres, com recorte de classe e raça, nos faz perceber que existem muitas que jamais poderiam adentrar nesse universo dos “círculos” intitulados sagrados. Sagrado para qual feminino?
Precisamos sim problematizar as diferentes realidades que não ecoam com o discurso “gratiluz”, “good vibes” e “paz e amor”, de narrativas elitizadas inviabilizam a integração de mulheres que vivem realidades discrepantes de todo esse discurso. É violento…
Talvez, precisemos compreender mais da nossa humanidade para vivenciar a sacralidade. Acredito em um movimento de empoderameto feminino que resgate da nossa sacralidade de forma fluída, com os pés do chão, sem a romantização de conceito linear do que é um círculo de mulheres.
O que adianta falar sobre “cura pelo amor”, enquanto vivemos uma realidade onde a cada 2 horas uma mulher é morta por femicídio, onde as principais vítimas são mulheres negras? no Brasil, 13 mulheres são mortas por dia, vítimas de seus companheiros ou ex. Como falar sobre Lei da Atração, cocriação e etc., enquanto a metade da população vive com menos de R$ 15 por dia? Como falar para uma mulher sobre ginecologia natural, se mais de 20% das brasileiras não têm acesso ao sistema básico de saúde e não frequentam ginecologistas? Como acolher o feminino de uma mulher trans, se vivemos no país que lidera o rankig de assassinatos de transexuais?
Vale ainda refletir (e compreender) que há uma diversidade múltipla de mulheres vivendo a potência do seu ser sagrado em diferentes lugares e situações, sem precisar se vestir de um manto sagrado que define o que é ou não o “sagrado feminino”. Elas estão em todas as partes: em aldeias indigenas, em quilombos, comunidades periféricas, movimentos sociais… Ouso dizer, que essas mulheres estejam perpetuando os mais sagrados saberes ancestrais e deixando legados de muitas histórias, sobretudo de resistência.
Vivemos num mundo em desconstrução, mas ainda estamos imersas em vários sistemas de exclusão que foram e são reproduzidos pelo patriarcado. Enquanto não sairmos desse lugar com uma única narrativa, estaremos fadadas a repetir a mesma opressão que estamos lutando há anos para romper. Ou pior, deixaremos sempre esses temas velados, sob um discurso injustificável que mais culpabilizam do que libertam.
O QUE É UMA VIAGEM VIVENCIAL?
É uma viagem que nos permite conectar com os elementos da natureza e a nossa ancestralidade. É a (re)conexão com sabedorias e medicinas ancestrais que nos conectam com nossa essência mais sagrada, respeitando as origens de nossa ancestralidade.
É o reconhecimento de que a energia criadora é, em sua essência, feminina, porque é misteriosa, cíclica, receptiva, abundante, paciente, vigorosa e fluída. Ao mesmo tempo, traz a potência da energia e a força do masculino, forças complementares em tudo que emerge da natureza. É o entendimento de que tudo é sagrado.
Nos encontramos para acolher e sermos acolhidas. Um espaço onde a voz não é silenciada, onde escuta e fala são sagradas, onde nos olhamos, reconhecendo-nos umas nas outras. É sobre deixar nossos corpos livres, enxergando a beleza na pluralidade e diversidade.
É o entendimento que o véu que separa o sagrado do profano foi inventado por aqueles que nos fizeram acreditar, por muitos anos, que deveríamos ser apenas um arquétipo. Somos o que quiser!
É um encontro de mulheres com trajetórias únicas. Um lugar onde possamos verdadeiramente, nos apropriar do ser plural que somos, sem narrativas singulares.
É uma jornada de autoconhecimento, onde você assume a potência de cada ciclo, entendendo que vamos mudando à medida que a lua caminha no céu, pois também a temos dentro de nós.
É uma viagem imersiva, onde podemos nos apropriamos do nosso próprio plantio: semeamos, adubamos e podamos os galhos secos para que estes possam fortalecer nossas raízes ancestrais.